A barriga foi o prenúncio. Custou a vir, mas tomou conta. Num me-carrega-que-te-apoio, ao qual me afeiçoei com certa facilidade.
Mas vê-lo pela primeira vez foi outra história. Tê-lo em meus braços, então, pôs do avesso prioridades e reescreveu meu daqui-pra-frente, convertendo todo o resto num desperdício imperdoável.
É que amor de mãe não tem medida, recesso nem receita. E envolve renúncia. Devoção. Pitadas de aconchego e porções descomunais de carinho, pra guarnecer e adoçar. Aí é misturar bem e torcer pra que dê samba. Que filho não tem bula. Nem juízo. Pega tudo que é ziquizira e faz justamente o que não deve. Mas soube da última? Você dá conta. E não pergunte como. Tem que emprenhar e sentir na própria carne pra saber que funciona.
O melhor de tudo é que dá certo. Mãe domina a arte do improviso e tem uma criatividade que contando ninguém acredita. Afora a paciência de Jó. E o que a fulana não sabe, descobre. Isso quando não adivinha. Que a dona além de tudo é telepata. Autodidata. Consultora. Motorista. PHD em psicologia aplicada. E se sentir falta de mais alguma aplicativo, procure que tá lá. Que a bicha é danada, viu? Afff Maria…
Um mulherão de todo tamanho que se desmancha por conta de um guri. Com filho é assim. Uma vida inteira revirada por causa de um peteleco de gente. Que nem tamanho tem, mas é meu. Quanto a mim, sempre fui dele. Perdidamente apaixonada. Embalando um pacotinho envolto em mantas, toucas e cueiros, e onde mal se veem as bochechas de fora. E é procurar por um e deparar com dois. Aninhados. Numa comunhão construída. Lapidada aos trancos e barrancos. E que nem sempre veio fácil.
Não me deixam mentir as noites em claro, os xaropes cuspidos longe e os reiterados e não menos famosos combinados. Pra todo o resto tem bitoquinha. Já que beijo de mãe tem propriedades curativas, ômega 3, nutre os órgãos e energiza os chakras. Bons pra tudo. De febre branda a ataque de soninho. Em caso de dengo, então, quebre o vidro e faça a festa. De onde vieram esses, tem outros. E muitos e muitos outros mais.
Afinal sou mãe de carteirinha. Daquelas que se pudessem, optavam por fazer de novo. E a tempo de entrar na fila outra vez. Com direito a repeteco de abraço. E fungadinha de saideira.
Até parece mentira a ligeireza com que crescem. Assim mesmo, do dia pra noite. Primeiro o leite seca. Daí o peito dá lugar a chuca. Que logo perde o posto pra sopinha. Mais ou menos na época em que começam a engatinhar. Depois, sentam. Aí são as perninhas que bambeiam. Até que improvisam um rumo e vão quase em linha reta. Falando pelos cotovelos. Enquanto a casa vai enchendo de amigos. Num instantinho estão lendo. Fazem contas. Planos. Passam a ter opiniões. Reclamam se mudam de casa. Estrilam quando mudam de humor. Escolhem suas roupas, seus empregos e namoradas. Viajam sozinhos. Trabalham. Dão mais um tanto de trabalho. E um belo dia casam. É quando ganhamos netos. Ou qualquer coisa parecida e mais ou menos nessa ordem.
No dia seguinte, a vida continua. Que filho estica, mas não envelhece nunca. Nem incomoda. E vem sempre primeiro. Então confortem-se, maridos. E entendam. Não é nada pessoal. Só que cama de casal, ou cabe a prole inteira, ou o papai que vá dormir noutro lugar. E já que está em pé, aproveite e traga suco. Ah! Bolacha recheada, também. E deixe o menino te pintar a cara, sim! De tinta, é obvio. Se não, que graça tem? Manchou a roupa, foi? Melhor. Fica de lembrança. Agora um beijo no bico. E aposto uma corrida. Duvido que ganhem de mim…
E já que mãe não se aposenta, que eu ame loucamente e para sempre. Por dois. Por seis. Dez mil e podendo prorrogar. Um amor assim, à moda. Largo. Pronto. Bem a minha cara. Sem conta nem final. Que filho é bom, viu? Melhor até que bolo quentinho. Aliás, minha mãe faz um de fubá, uhhhhhhhh… inesquecível. Desses infalíveis, que só ela e ninguém mais. Qual o segredo? Sei não. Mas arrisco um palpite. Carinho de mãe. Ué? Precisava alguma coisa mais?