Dicionário de futebolês para amadoras com filhos

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Chegou a copa. E você, que passa os dias correndo atrás da bola (leia-se: molecada), percebeu que não se preparou adequadamente para o evento.

Não falo em acessórios, que nessas horas qualquer fralda com ursinhos verdes em carrinhos amarelos vira bandana e pashmina. Falo da preparação técnica. Dos pré-requisitos que vão dos sistemas de esquema tático (4-2-4, 3-5-2, 1-2-3 de Oliveira 4 e, o infalível, 3 pra cá e 2 pra lá), aos nomes dos artilheiros, das comissões técnicas e o diâmetro médio das coxas da equipe de ataque italiana (mamma mia, questo è una meraviglia!).

Mas não se preocupe, que compilei de forma simples e concisa os conhecimentos necessários a quem não quer fazer feio numa mesa-redonda de futebol. Ou quadrada, de boteco. E note que a segunda é ainda mais exigente que a primeira. Sendo assim, não perca mais tempo e olho no lance!

1. Prorrogação: minutos finais e decisivos de um jogo. Aqueles que você nunca verá (porque a sua filha menor grita e esperneia. Quer ir embora, de onde quer que você esteja. Ou porque as amiguinhas da sua filha gritam e esperneiam. Querem ir embora, de onde quer que vocês estejam. Ou porque o seu marido, torto de bêbado, cismou de cantar, A pipa do vovô não sobe mais…, colado a bunda da sua melhor amiga). Assim, quando o juiz apita, Fim de jogo!, e todos se preparam para sair, só dá você, de um lado ao outro, perguntando: E aí? Foi gol? Ganhamos? De quanto? E de quem? Era amistoso ou semifinal? Falando nisso, alguém sabe se vai ter copa?

2. Amistoso: que nem peguete. No final, não vale nada.

3. Semifinal: noivado, com grandes chance de dar jogo.

4. Final: Casório, com todo mundo chorando e torcendo pelo melhor.

5. Mão na taça: em fim sós. Daqui a quatro anos voltamos a conversar.

6. Final vencida pelo outro time: Foi bom enquanto durou.

7. Bicão: coice de ponta de chuteira. Quando você descobre que além de dinheiro, os jogadores também têm preparadores físicos, nutricionistas e fisioterapeutas fabulosos que você nunca terá. Mas a inveja corre por conta do pedicuro deles, que o infeliz chuta de canhota e faz gol de placa sem sentir nadica de nada! Enquanto você está lá: trabalhando de chinelo há quase um mês. Com um dedão que é pura carne esponjosa e lateja só em ver sapato…

8. Bola murcha: como você se sente ao descobrir que o jogo foi ontem e que torceu noventa minutos pelo capitão Jack Sparrow, achando que era o Thiago Silva, em um jogo imperdível contra aquele timeco da rainha.

9. Canhota: pé contrário da mão que escrevinha. Ou pondo em miúdos: pé oposto a mão que assina os cheques, abre presentes, passa rímel e arranca os pelos que nascem tortos na base da sobrancelha.

10. Vai que é tua: vai e toma, que não é tua coisa nenhuma, mas pelo que estão te pagando, não faz mais que a obrigação!

11. Essa até eu fazia: dê-me metadinha do que pagam a eles e descobrirão um talento nato.  Não prometo gol de voleio, mas que desembesto, eu desembesto…

12. Replay: só mais uma vezinha! Por favor! Por favorzinho! Dessa vez eu juro que assisto e presto atenção quietinha, vai… Por Deus do céu, Nossa Senhora e Santa Rita do Passa Quatro… E se jurar de pezinho junto? No duro, mesmo! Juro-juradinho que nunca mais vou perder nenhum lance, por menorzinho que seja. Por favor… Não? Por quê? Porque não, não é resposta!

13. Mete 4! Mete 4!: nenhuma conotação sexual, que o sangue de Jesus tem poder!

14. Impedimento: tipo criança que acorda no meio da noite e não volta a dormir por nada. Nem como reza brava ou historinha longa. Em mais um zero a zero histórico, torcida brasileira…

15. Bolão: dinheirama que você levaria fácil, caso acreditasse em seus palpites descabidos. Mas, não. Vai perder. Quem mandou ouvir o marido, o filho, o sobrinho e o porteira da escola das crianças? Ficou em último. Benfeito!

16. Sim, não, uhum: tudo que vai extrair deles durante uma boa partida. E é melhor não insistir, ou entra em campo o afamado, Que parte do estou vendo o jogo você não entendeu?

17. Uuuuuhhhhhhh: Não é vaia, não. É o outro. Aquele. Do drible que quase foi. Sem nenhum significado específico. Só indica que triscou rente. De resto, não serve pra nada. Mas, diverte. E ajuda a passar o tempo, enquanto o Neymar procura o gol. Experimente, vai! Capaz até de gostar. É só armar o biquinho e deixar o resto por conta da arbitragem: Uuuuuuuhhhhhhhhh…

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Brasilianadas

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Oi, seu gringo!

Está chegando o grande dia, né? Eu? Prontíssima! Os aeroportos é que não. Nem a infraestrutura no entorno dos estádios. É um ajuste aqui, um telão que falta ali, e meia dúzia de cadeiras pra instalar acolá.  Mas de resto, botei água no feijão e roupa de missa. Então, se é um desses que ainda não desistiu, venha!

Mas venha com fé. Em paz e com a carteirinha de vacinação em dia, por favor. Como disse o grande filósofo (ou foi um mc funkeiro qualquer, eu agora não me lembro), cada um no seu quadrado. Ou, pondo em miúdos, fique com sua vaca louca pra lá, que mantenho minha febre tifoide pra cá. Só não esqueça as figurinhas, que o álbum eu já comprei. O que não comprei ainda, foi essa história toda de copa. Mas passa, viu? E a gente engole. Depois torce. Que o coração é brasileiro, tadinho. Desses que adoram samba e sofrem com a situação do jeito que está.

Ah! Traga capote, que em junho chove. Sempre. A cântaros, ou privadas. Fenômeno que nossa rede de estações meteorológicas tem ainda certa dificuldade em prever, já que o evento parece interligado a áreas restritas do Recife. Mais especificamente nas cercanias do Estádio do Arruda.  Vai à Arena Pernambuco? Tudo bem. Fica longe. Mas prefira áreas cobertas. Na dúvida, já sabe: um olho no jogo, outro no céu. E adquirindo hoje, mesmo, seus ingressos, você leva para casa um lindo par de capacetes. E ainda recebe a novíssima Guinsu Fifa 2014. Suas lâminas com duplo serrilhado cortam balas, pregos e descascam fios elétricos, além de enfrentar torcedores de uniformizada com precisão e habilidade. Se quiser usar cartão de crédito, basta fornecer o número. O boleto é falso, isso você já sabe. Não perca mais tempo. Oferta limitada, enquanto durarem os estoques dos cambistas.

Vai pra São Paulo? Rio? Com a falta d’água, aqui o problema é outro. Numa estiagem da moléstia. Mas não ficamos atrás quando o assunto é emoção. Procurando adrenalina? Veio ao lugar certo! Sua família vai tremer da cabeça aos pés. Temos arrastões de todos os tamanhos. E nem precisa fastpass. Mas não se preocupe, que só atiram em quem reage. Outra coisa, antes de sair de casa, não custa nada uma sapiada na net. Só pra garantir. Vai que acordou com cara de bandido procurado, justo hoje! Culpa sua, tanta gente de bem pra se parecer… Que somos hospitaleiros, você sabe e todo o mundo, também. O que não temos é segurança. E cansados de tanto apanhar, um belo dia, começamos, também, a bater. Se for de carro, atropelamos. Se for na mão, o linchamento é quase certo. Perdeu? Não deu nem para dizer, Benfeito? Esquenta, não. Mais tarde eles passam na TV. Facebook. Whatsapp. Enfim…

Hein? Será que dava pra falar mais devagar? É que meu inglês não anda lá essas coisas. Mas soube de umas putas que até falam direitinho. Com curso pago e todo o mais. Onde aprenderam a dizer o quanto cobram e as diferenças básicas entre o kiss e o fuck. E que o primeiro é barato. Negócio de mãe pra filho. Já o segundo é velho conhecido da casa. E acomete a todo trabalhador honesto brasileiro. Mas esse é much. Much more expensive.

E desculpe se encerro o papo assim, na correria. É que com tanto feriado encavalando em dia santo, anda meio difícil para o ano engrenar. Experimente juntar copa, carnaval, natal e eleição, para ver o que é que sobra. Abandono de emprego institucionalizado subscreve justa causa? Vai saber…Perdeu foi a graça. Ouvi contar de sindicato articulando greve nas férias, só pra manter o costume. E tem ainda os dias de licença, que esses são clássicos. Ou hemorrágicos. Com doença pra escolher e repetir, já que mosquito a gente tem de sobra. O que falta é tempo, médico e hospital. Então, se me dá licença, vou correr, que hoje é dia útil. Pena que é meio expediente. É… Ordens do PCC. Medo? Eu? Imagine. Eles só depredam ônibus e quase sempre dá tempo de descer. Mas com carro blindado eles não mexem. Por falar nisso, onde está o seu? Ah… Não tem, não, né? Sei… Acreditou no BRT, foi? Xi…Imagem

A bola fora da Fifa

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Poucos tiveram a chance de desfrutar das pérolas da Fifa na cartilha “Brasil para iniciantes”. Caso não tenha sido um dos sorteados, não se desespere. Discorro sobre ela, com você. 

Não chega a ser um guia de sobrevivência nas selvas, já que não cita ataques de tarântulas assassinas, nem como sair ileso a um cerco de jaguatiricas famintas. Mas um manual, repleto de maneirismos, de como aguentar uma semana inteirinha na roça. Ou entre nativos de uma tribo bacaninha, que adoram açaí e não comem seu pai, nem sua mãe (talvez só peçam seu escalpo, pra guardar de lembrança, ou doar, quando conectados a alguma nova ação do facebook). Ao melhor estilão jungle-tech.

Algumas dicas são de doer. Se bem que outras passem até por pertinentes, como aquela que diz que brasileiro não liga quando promete. Veja bem. Nesse caso, a culpa é mais sua do que minha. Tem coisa que não adianta forçar. Depende da empatia. Do momento. E do climão que rolou na véspera. Entregou fácil? Só sinto. Vai mofar ao lado do telefone (celular tijolão, sabe? É que 5S aqui não pega. Quem sabe com um Bombril pendurado na ponta. Boa ideia! Vou tentar).

Blatter aproveita para reclamar do nosso jeitinho brasileiro. Que falamos com as mãos e gostamos muitos de beijar. Ô, meu caro, dê uma mãozinha aqui, que agora fiquei confusa: quer que eu te ligue, mas não quer que eu te beije. É isso? Estranhos esses europeus, muito estranhos.

Entre os conselhos sui generis, sobrou até para as nossas charangas: em se tratando de trânsito tropical, carro maior é o sempre chega primeiro. Quer saber? Achei genial! Por isso aposentamos os fuscas, os smarts e as motonetas. Em tempos de Copa, o negócio é dirigir basculante e retroescavadeira. Estacionar? Bobagem. Põe na vaga do seu Joseph.

E a implicância não para por aí. Veio dizer que brasileiro é tão bonzinho, pena que adore furar fila. Alto lá, senhor gringo! Com coisa séria não se brinca. No Brasil, fila é questão de saúde pública. Pressuposto de hospital. Sem médicos, remédio, ou leitos para deitar e definhar. A solução é desencarnar direto. Sem escalas. Direito de morrer a turma até que tem. Não tem é onde. Nem como. Ou dinheiro que dê para o gasto.

Money? A gente bem que tinha. Mas é tanto deputado para sustentar que fica difícil. Tem ainda os superfaturamentos e a dinheirama enterrada nas construções dos seus estádios. Gostou, foi? Que bom! Também achei bonitinho. Olhando de perto dá até um aperto no peito. Uma vontade imensa de chorar. Mas não é tristeza, não. Está mais para desgosto. Coisa de sertanejo bobo. Mas, passa. Assim que o Neymar fizer um gol.

E nada de topless, que aqui não é a house of the mother Johanna. Só parece. Mas não é. E nem invente de bulir com nossas indiazinhas ou coisa que o valha. É que aqui você não vai preso, mas corre o sério risco de ser abordado pelo pai da moça, oferecendo a caçulinha pela metade do preço.

É. A coisa está feia, seu Fifa. Ainda bem que vocês estão felizes. Afinal, brasileiro é apaixonado por futebol. E gosta de ingresso ainda mais do que gosta de banana. E rodízio com picanha. E cerveja.  E futebol. Ah, já disse futebol? Então, . Foi mal…

E os momentos de sabedoria seguem, jorrando. Mas vou pinçar só mais um. Que não gosto de injustiça. E muito se enganam os que afirmam que não topamos nossos muy queridos hermanos. Principalmente se têm o talento de um Gael Garcia Bernal. Ah, ele é mexicano, é? Ou o charme de um Javier Bardem. Espanhol? Sei… Bom. Eu tentei. Então desço aqui mesmo. Em Brasília. Como? A distância entre Brasília e Buenos Aires? Um tirinho. No próprio pé. E antes de sair, faça-me um favor. Vai ver se estou lá na esquina, entre a Florida e a Córdoba. Dançando um samba.  A lá Gardel. Esperando agosto chegar…

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