Só que não

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Mar no jeito. Dia quente e claro. Praia boa pra gente passear. E foi o que fiz.

Sozinha. Rente a água. Eu e Deus. Quer dizer, não exatamente. Já que a minha frente ia um garotão. Desses de peitoral blindado e bermudão pelas canelas. Igualzinho ao Júnior. Meu filho.   E se tem algo que realmente me incomoda nessa vida, taí: caminhar a rabeira de menino. Tudo. Menos isso…

Toda vez a mesma história, Cê é mole demais, Quer que empurre?, Aprume essas costas, Fale menos e ande mais, Affê…  Quando não cruza os braços pra perturbar, É pra hoje ou tá difícil? Ande, manhê! Que canseira, viu?…

Fato é que decidi, Comigo não, violão: é hoje que tomo a dianteira…

Sei que joguei pra direita. Cortei pela esquerda. Acelerei. E nada. Ainda na cola do distinto. Tornei a apertar o passo. Corri por fora. Tropecei num rastelo de criança. Ralei de todo lado e ainda por cima engoli água (e não foi pouca, juro procêis). Insisti mais um tanto. Pelejei. Fiz que fiz até que passei o tal do moço.

Ótimo? Péssimo!  Onde já se viu uma mulher na minha idade zanzando à frente de um bonitão de quase vinte? Calma, pensei. Muita calma nessa hora, que desalento não corrige estria. Pior, agrava. E se é assim, melhor posar de fina. Atarraxando braço com perna e pneu com culote. Talvez chacoalhe menos. Ou trema só um pouquinho. Aí é torcer pra virar charme, num doce balanço a caminho do mar…

Ok. Bateu o desespero. O fato do moleque estar mais pra capitão da seleção americana de polo aquático, que pra corredor fundista queniano, agravava ainda mais minha aflição. Mas resolver o negócio era moleza. Tudo que tinha a fazer era deixá-lo passar. Fácil, né? Sei…

Bastou desacelerar pro diacho do moçoilo pisar no freio comigo (pra que pressa, não é mesmo???) Enfim. Sentar também era uma ideia. Se boa ou ruim, são outros quinhentos. E coincidência ou não, acontece que despenquei. Literalmente. Caindo de dorso e afundando. Mas, ufa! Ele passou. Já podia levantar e retomar o percurso.

Isso se não estivesse mergulhada em areia fofa até onde Deus desse discernimento. Tudo bem. Questão de habilidade e jeitinho. Tentei novamente. E entranhei mais metro e meio. Faltou determinação, só pode… Experimentei botar mais força e quase virei tatuzinho. Quem sabe não descubro um veio d’água e saio nadando até o Atlântico. Cruzeiro pra quê, gente? Bobagem…

Jeito foi rolar. Croquete de coroa. Hit do verão europeu. Não deixem de experimentar. Sensação incrível essa de sururu empanado craquelando ao sol. Difícil é correr cuspindo areia. Mas a isso também se sobrevive. Depois vira história. Mas fica entre a gente, combinado?

De resto, fiquei lá. Marinando. Aguardando que a duna sedimentada em meu biquíni se desfizesse aos poucos. Então, sacudi o mar do corpo e segui meu rumo. Feliz e satisfeita. Como previsto desde o início. Eu e Deus. Bom. Quase. Que um senhor marchava justo em frente. De pisada funda e ritmada. Turrão, quer apostar? Acostumado a mandar e desmandar na vida dos outros. Igualzinho ao meu marido. E se tem algo que realmente me incomoda nessa vida, taí. Mas comigo não, violão…

Só que não

Dieta do Biquíni

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Julia seguia firme. Derretendo. Contando os minutos e as calorias que a separavam de mais uma sexta-feira quente. 

Mas Deus que é pai e fez o sol, fez também a praia. E ela não deixaria por menos. É. A Júlia era assim. O cão chupando manga. E quando encasquetava. Sai de baixo.

Em se tratando de verão, tudo pesa. Desarranja. Ou, o que é pior, engorda. E bastou somar biquíni, calorão e culote, pra vaca ir de vez pro brejo. Imensa. Redonda. E saliente à beça. Pneu tala larga e pochete neoprene. Cruzes!

E pensam que ela entregou? Quem, a Julia? De jeito nenhum! Passou incólume pelas mais diversas provações. Seu segredo? Foco. E um espelho de corpo inteiro. Mais uma foto dessas que não favorecem, tirada de baixo para cima, presa a sua geladeira.

Mas, como dizem por aí, tudo vale a pena se a fome não é pequena. E lá foi ela. Faminta e linda. Bucho roncando a caminho do mar.

Ah, o mar…  Era só esquecer da vida e deixar o couro fritar. De frente. De lado e de costas. Virando pururuca light. Daquelas bem sequinhas. Que desmancham na boca. Hummm

Foi fechar os olhos pra festa começar, Queiiiiiiiijo de coalho. Olha o queijiiiiiiiinho na brasa

Aquilo soou como música ao seu estômago. Afinal, não tem óleo. E o queijo é branco. Assim, numa alegria crescente, pediu logo dois. Um pra cada mão.  E comeu. Tudinho. Numa bocada master. Até lamber os dedos. Pensando que foi pouco. Mas melhor que nada. Enfim…

Tornou a deitar e a ouvir. Um clamor novo. Do milho debulhado e servido num pratinho. E opção saudável ninguém discute. Come-se e pronto.

Na sequência veio o moço do sanduíche natural. A cesta de empadinha, assada e com pouquississíssima gordura trans. O carrinho de raspadinha. Que é só gelo e fruta. A batida de Maracujá. Que tinha só um dedinho de nada de leite condensado. O sacolé que ardia de doce, mas o moço jurou que era culpa do morango. Maduro-madurinho. Uns dez pacotes de biscoito de polvilho. Afinal, polvilho é quase vento. E não tem glúten. Por isso não engorda. E o mate com limão. O picolé de coco queimado. O acarajé quente da baiana (que não era baiana, nem aqui, nem na China). E o afamado espetinho de camarão pistola. Tudo natural e levinho. Que nem manda a etiqueta. Extra-GGG-Plus, no caso.

E o sol fez sua curva, iniciando o final dos trabalhos. Hora de chacoalhar a esteira e bater em retirada. Não sem antes emendar numa esticadinha. Convocando os mais chegados para um dedo de prosa furada, num botecão de esquina. Como era mesmo o nome daquele lugar?  Aquele, gente, rei do pastel de carne seca e do bolinho de bacalhau…

Mas antes que alguém pudesse concordar, ouviu-se o brado retumbante. Era a Júlia, dando o alarme, Nem pensar! Tô de regime, esqueceram? Fritura só quando invernar. Eu, hein? Depois ficam reclamando que a roupa não entra. Tem que ser assim, que nem eu, que digo que não como e não como e pronto!”

É. Tá certo. Bom é ter amiga assim. Firme. Forte. Que não deixa a gente titubear. E a Júlia era assim. O cão chupando manga. Mas quando encasquetava…

 

Democracias

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Uma palavra que define bem as praias que frequento, é essa: democracia. O que explica, em grande parte, muitos dos momentos memoráveis, e outros nem tão aprazíveis, vivenciados nesse dolce far niente a caminho do mar.

Sim, senhor. Estão todos lá.

A menina linda, com tudo em cima. O rapaz tatuado e seu dragão do Shiryu. A coroa que malhou o ano inteiro. A mocinha que postergou a academia, outra vez. O saradão de barriga tanquinho. O cervejeiro e sua pança barril. Aquele que passou protetor demais. E quem esqueceu por completo de passar.

Praia boa é assim: tão minha, quanto sua. Dele. Dela. E de quem mais chegar. Na mesma proporção e intensidade. Está no DNA de quem nasceu à beira-mar. E na ansiedade de quem viajou horas e horas por um tantinho assim de areia. Pra fritar e esturricar. Bem a gosto do freguês.

Do consciente ao sem noção. De quem limpa, cata e cuida. Ou quem suja, incomoda e nem faz conta.

Do menino que joga terra pros lados. E da desligada que atrapalha o frescobol (eu, por exemplo). Da bola vesga que cisma em acertar justo quem não joga. Das pombas. Do mala-sem-alça que discoteca a orla na marra. Do espetinho de gato ao sanduíche natural.

Tem pra todo mundo.

Pra quem trabalha demais. Pra quem foge do trabalho. Pro sujeito que leva o iphone, o ipod e o laptop. E pro sujeito que afana o iphone, o ipod e o laptop.

Dá de tudo. O tempo todo. Faça chuva ou faça sol (aliás, quando é que chove, hein, meu santinho?).

Por isso, pra aproveitar melhor o calorão, faça valer aquela regrinha mágica: sirva-se de água e bom senso sem moderação. Em doses homéricas. Repetidas e cavalares. Sem vergonha ou discrição.

Ouvi dizer não engorda. E que a satisfação é cem por cento garantida. O que custa experimentar? Vai que a moda pega…